Em tempo de isolamento domiciliar, as pessoas têm buscado atender à necessidade de estarem, de alguma forma, próximas de seus familiares e amigos e também de reunirem-se em comunidade de fé. Junto com as iniciativas que tornam possível este encontro virtual, surgem algumas dúvidas sobre as melhores ferramentas para ajudar os fiéis a se conectarem. Tanto as redes sociais quanto aplicativos ajudam neste momento.
O doutor em Ciências da Comunicação Moisés Sbardelotto analisa o momento como um “confinamento litúrgico”, no qual se percebe “um esforço muito grande, por parte de padres, religiosos/as ou leigos/as, para que possa haver ambientes de encontro agora digitais, ultrapassando o isolamento e encurtando distâncias”. Ele vê a Igreja, nas suas várias expressões, em busca de ser mais “‘ousada e criativa’, como pede o Papa Francisco, ao repensar o estilo e os métodos evangelizadores”. E neste contexto, com templos fechados e impedimentos de participação dos fiéis em celebrações, “a Igreja pode continuar sendo, e talvez até mais, ‘em saída’, agora pelas ‘estradas digitais’, como diz o Papa. Estradas que estão “congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida: homens e mulheres que procuram uma salvação ou uma esperança”.
Duas das redes sociais mais utilizadas no Brasil são as principais ferramentas para estar próximo de familiares e amigos, por meio de mensagens, fotos, áudios e transmissões ao vivo. Com 130 milhões de contas no Brasil, o Facebook tem sido a principal rede social que aproxima padres e bispos de seus fiéis, com as celebrações transmitidas na plataforma, por exemplo. O Whatsapp, aplicativo de mensagens instantânea que abriga 89% dos internautas brasileiros, favorece conversas e chamadas de vídeo com até quatro participantes. Esses recursos dependem de boa conexão com a internet.
Por meio do Whatsapp, são compartilhados arquivos que ajudam em celebrações em família e também organizadas campanhas de oração. As autoridades de saúde, principalmente, têm alertado sobre o mau uso dessa rede no compartilhamento de informações sobre a pandemia. O Ministério da Saúde disponibilizou um número para que qualquer cidadão possa verificar com profissionais se informações que circulam nos grupos são verdadeiras ou falsas. O número é (61) 99289-4640 e deve ser adicionado aos contatos do celular.
Para os que desejam promover encontros, reuniões, momentos de oração em grupos maiores, estão disponíveis aplicativos gratuitos nas lojas dos sistemas operacionais:
O Google oferece várias ferramentas de videoconferências, que podem ser utilizadas para momentos de encontro e oração em grupo. Um grupo de jornalistas de Brasília (DF) que se reúne periodicamente para a meditação do terço, diante da necessidade de isolamento, buscou utilizar o Hangouts Google para promover o momento de oração, “principalmente porque algumas pessoas ficaram angustiadas com toda essa situação, principalmente os jornalistas que estão aí envolvidos com as notícias desoladoras que a gente têm ouvido”, comenta o jornalista Régis de Godoy-Rocha.
Mas o grupo teve uma dificuldade: a ferramenta só disponibilizou espaço para participação por vídeo para 10 pessoas. Outras vinte tiveram acesso somente por texto. A área de bate-papo do Hangouts comporta até 150 pessoas.
Ferramenta parecida, também oferecida pelo Google, o Duo permite até oito pessoas na videochamada em grupo.
Régis acredita que os recursos tecnológicos possibilitam essa participação dos fiéis, mas pondera que não se compara estar na igreja junto com a comunidade: “Nos momentos extremos como esse, eu tenho certeza que a misericórdia de Deus se estende para fazer com que nossas almas estejam presentes diante de Deus nesses momentos e que as bênçãos possam ser distribuídas igualmente àqueles que não podem estar presentes diante dos sacramentos”.
Uma ferramenta também gratuita que pode favorecer a reunião de várias pessoas é o ZOOM Cloud Meetings, que promete conversas em vídeo com até 100 pessoas.
Outra possibilidade é contar com o aplicativo Skype, que permite mensagens de texto, videochamadas e salas de conferência com até 24 pessoas.
Além da análise do novo fenômeno de busca por uma possibilidade de encontro, Moisés Sbardelotto fala em “pastoral digital” e dá indicações de como promover esta modalidade de experiência de fé. Para ele, é importante reconhecer três coisas:
1) Há um outro “diante de mim”, mesmo que do outro lado de uma câmera e de uma tela. Focar apenas na qualidade tecnológica das transmissões pode levar a esquecer o “rosto” dessa pessoa que nos acompanha, as suas alegrias e esperanças, as suas tristezas e angústias.
2) O objetivo principal de uma pastoral no ambiente digital é justamente fortalecer as relações comunitárias com essas pessoas de carne e osso que nos acompanham, isto é, “construir a Igreja” também em rede.
3) Essa comunidade em rede, entretanto, por melhores e mais aperfeiçoadas que sejam as técnicas e tecnologias utilizadas, é convocada e congregada não pelos esforços do comunicador, mas sim pelo próprio Deus, por meio de Jesus, na unidade do Espírito.
Moisés Sbardelotto também ressalta que, antes de transmitir qualquer conteúdo em rede, é preciso “abrir espaço para escutar as necessidades e as dúvidas mais profundas das pessoas, especialmente neste momento sem precedentes que estamos vivendo”.
“Não podemos correr o risco de ignorar o outro em sua humanidade, nem vê-lo apenas como um mero “número” a mais, como um mero “espectador” apassivado e coisificado, contabilizado pelos índices de audiência e visualização (e quanto maiores, melhor…). Pior ainda é aproveitar-se – negativamente –deste período de exceção e das pessoas em rede para tentar “bombar” e “viralizar” nas redes, postando vídeos e subsídios de fundo religioso a fim de chamar a atenção, no fundo, para si mesmo e para aumentar a própria visibilidade. Devemos ter sempre em mente o “porquê” e “para quem” fazemos todos os esforços possíveis para “encarnar digitalmente” a ação evangelizadora”.
Fonte: CNBB