O bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, falou especialmente com o portal da CNBB sobre o novo momento por qual passa a comunicação da Igreja no Brasil expresso numa nova compreensão de sua importância estratégica para fortalecer a evangelização no país. Para ele, a comunicação não é meramente o uso de instrumentos e ferramentas tecnológicas, mas um processo que está a serviço da missão da Igreja que é evangelizar. “O primeiro desafio, a partir do qual decorre a compreensão dos outros, é entender a comunicação como um elemento estratégico na evangelização”, afirmou.
O bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG) também apontou a presença no mundo digital e nas redes sociais como grandes desafios para a ação pastoral da Igreja. Segundo ele, é necessário compreender essas ferramentas e estratégias e exercê-las com competência. Dom Mol orgulhou-se do lançamento do portal da CNBB, neste dia 4 de setembro. O portal, segundo ele, foi pensado com uma nova arquitetura visual e da informação para facilitar a experiência do internauta e de quem procura informações sobre a entidade. O bispo falou ainda dos projetos em andamento que visam avançar na comunicação na Igreja no Brasil. Entre eles uma maior articulação com as televisões e rádios católicas do Brasil, a formatação, na TV Aparecida, de um programa cujo foco é falar das ações da Igreja no Brasil e a realização do 12º Mutirão da Comunicação, a ser realizado em 2021. Leia, abaixo, a íntegra da entrevista.
Eu enumero três grandes desafios e ao redor deles aglutinarei todos os demais. O primeiro dele, a partir do qual decorre a compreensão dos outros, é entender a comunicação como um elemento estratégico na evangelização. A comunicação não é meramente um instrumento e seu uso de uma ferramenta tecnológica. A comunicação e o processo de comunicação estão embutidos na Evangelização. Quando evangelizamos, seja qual for o instrumental que a gente tem à mão, existe um processo de comunicação. Comunicação é sempre um processo e não está separado daquilo que é a missão. A missão é evangelizar e só se evangeliza com o elemento da comunicação. Então, é muito mais do quer simplesmente nós nos atualizarmos sob o ponto de vista do conhecimento da comunicação. Esse é o grande desafio, considerar a comunicação de fato como um elemento importante e indispensável, sem o qual, portanto, não é possível fazer evangelização. Para isto, temos um longo caminho a percorrer. Por exemplo, fazer com que algumas pessoas dentro da Igreja façam as pazes com a comunicação. É como se tivessem brigado coma comunicação porque não dão conta de pensar a comunicação como uma competência estratégica. E as vezes alguns se orgulham em dizer que são analfabetos em termos de comunicação. Não, precisamos aproximar, criar um processo de encantamento em todas as pessoas pela comunicação como elemento fundamental do processo de evangelização.
“Precisamos aproximar, criar um processo de encantamento em todas as pessoas pela comunicação como elemento fundamental do processo de evangelização”.
O segundo grande desafio é o mundo digital, compreender suas ferramentas e estratégias e exercê-la com competência. Este ambiente de comunicação digital pode ser um mundo ainda muito estranho para muitas pessoas. Embora, praticamente, hoje todas as pessoas façam o uso dos processos digitais todos os dias com o seu celular. A prática da comunicação digital expande enormemente a possibilidade do anúncio do Evangelho com todas as suas características, sobretudo aquelas que são intrinsecamente ligadas aos ensinamentos de Jesus. Então, a prática da comunicação digital que permite a criação de redes, quase que elevadas ao infinito, precisa entrar dentro da comunicação na Igreja.
Um terceiro ponto é assumir o ambiente da redes sociais como espaços de evangelização. Como elementos fundamentais dentro da Evangelização de modo que passemos de uma negação das redes sociais e sua “demonização”, mas as tratemos e, sobretudo, as utilizemos com o pensamento positivo e mais do que isso fazendo delas meios de aprofundamento da fé, de formação, do anúncio de Jesus, do despertar da solidariedade, da comunhão entre as pessoas. Porque justamente o conceito de redes nos leva para isto. E para cercar estes grandes desafios (a comunicação entendida como ação estratégica, a comunicação digital e a presença nas redes sociais) precisamos colocar todos eles dentro de um grande círculo ao qual podemos chamar de a linha pastoral da ação evangelizadora da CNBB que se traduz nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (2019-2023), renovadas a cada 4 anos e, também, no magistério dos bispos. Cada vez que se renovam as diretrizes da ação evangelizadora da Igreja do Brasil temos nas mãos uma espécie de compêndio de teologia pastoral muito contemporâneo e atualizado. Estes são os grandes desafios, na minha visão.
Primeiro é o princípio da valorização da comunicação. Ela precisa ser reconhecida, valorizada e assumida, uma vez que exige adesão porque perpassa todos os nossos processos eclesiais. Um segundo princípio é que há um caminho de mão dupla entre a comunicação e a evangelização mas ambos com uma característica muito importante porque tanto a primeira quanto a segunda só fazem sentido se têm um caráter libertador. Ou seja, a evangelização é feita quando é feita na liberdade, é feita e alcança as pessoas quando é traduzidas, digamos assim, nos valores concretos da vida cristã e do viver em Cristo, como disse São Paulo. E a comunicação é a mesma coisa, porque nem o evangelho e nem a comunicação podem ser utilizados para oprimir as pessoas e tirar sua liberdade, manipulá-las e enganá-las. Então, evangelização e comunicação vão se encontrando o tempo todo, num caminho de idas e vindas onde ambas se inter-relacionam. E depois um outro que é ao mesmo tempo um princípio e, também, de certa forma um desafio que é fazer a comunicação do Evangelho para todos. Nós temos uma dificuldade real, que está facilmente percebida na prática de comunicação em tvs, em rádio, nas redes sociais e até mesmo nos impressos. Nós conseguimos fazer uma comunicação mais popular mas temos uma dificuldade de fazer com que esta comunicação do Evangelho ajude as pessoas a dar um passo para o aprofundamento da fé. Então, não é que a gente não valoriza o popular, pelo contrário, precisamos atender bem a demanda popular. Porém, não podemos seguir o princípio de que qualquer coisa serve para o popular. Não pode ser assim, entendemos que a comunicação bem aplicada ao processo de evangelização pode ajudar as pessoas a darem passos profundos e decisivos no conhecimento e adesão à fé centrada em Jesus Cristo. Pensado em comunicação, precisamos entender que as pessoas simples são capazes de profundida não podemos não podemos subestimar isto. A comunicação católica no Brasil precisa alcançar os formadores de opinião, os pensadores, as pessoas eu estudam e refletem o mundo. Quer dizer, a comunicação não pode ser ruim para uma camada da população e para os outros não. Precisamos assumir como princípio orientador de que a comunicação na Igreja é para todos e todos deverão sentir, na comunicação em função da evangelização, algo importante para a sua própria vida.
“Precisamos assumir como princípio orientador de que a comunicação na Igreja é para todos e todos deverão sentir, na comunicação em função da evangelização, algo importante para a sua própria vida”.
O primeiro que gostaria de destacar é a reformulação do site da CNBB com uma nova organização da informação e desenho e visualização mais fácil para o leitor. Um segundo destaque que gostaria de fazer é que estamos trabalhando muito com todas as tvs e canais de inspiração católicos do Brasil, por meio da Signis Brasil, para que a gente tenha sempre a esperança e, sobretudo, a alegria de constatar que cada vez mais elas estão bem alinhadas com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil. Tanto as tvs quanto as rádios católicas que estão organizadas na Signis Brasil e na Rede Católica de Rádios (RCR), bem como os impressos e a internet e redes sociais, fazem um bem muito grande à evangelização. Mas podem, como nós sempre devemos nos sentir pequenos que somos, ter a consciência de que podem fazer muito mais. Estamos num momento interessante de articulação das tvs, o que supõe discutir, aprofundar, às vezes discordar, mas sempre muito unidos na comunhão a serviço da Igreja. Destaco também algo que está acontecendo mais especificamente com a TV Aparecida porque ela pertence ao Santuário Nacional que por sua vez, estatuariamente, pertence à CNBB. A ideia é que a TV Aparecida vá se caracterizando como a TV da Igreja no Brasil. Isto tem sido muito bom, feito de maneira muita tranquila e em diálogo com a equipe de Aparecida (SP), um grupo de pessoas fantásticas muito comprometidas e envolvidas. Estamos, inclusive, formatando um programa diário na TV Aparecida, de cerca de 15 minutos, de modo a expressar muito bem tudo que está acontecendo dentro da Igreja com uma dinâmica bastante interessante. Um outro destaque é que acrescentamos nos prêmios da CNBB, operacionalizado pela Comunicação da entidade, dois prêmios muito importantes. Primeiro, o prêmio “Querigma” para premiar trabalhos interessantes da Pastoral da Comunicação (Pascom) no Brasil inteiro. Um dos maiores grupos de comunicação na Igreja no Brasil são chamados carinhosamente de “pasconeiros”. Um segundo é o prêmio Papa Francisco concedido a publicadores e pessoas que publicam no campo da comunicação. Poderia destacar muitos outros pontos, mas quero destacar a realização, em 2021, do 12º Mutirão de Comunicação. Estamos buscando assegurar um formato interessante juntando vários agentes e segmentos de comunicação em um único evento. Isto vai dar substância, conteúdo e pertinência ao encontro. No evento, teremos momentos comuns e específicos. Dentro do encontro, acontecerá o 7º Encontro Nacional da Pascom, o 10º Encontro de Jornalistas de Assessorias de Imprensa e Comunicação das dioceses e regionais, o segundo Congresso da Signis Brasil e o terceiro Congresso Nacional de Rádios Católicas. Será um momento de condensação da comunicação nacional da Igreja no Brasil.
Fonte: CNBB