De Norte a Sul do Brasil, dificilmente há algum fiel que não conheça e tenha cantado alguma música interpretada por um padre cantor. “Oração pela Família”, “Nossa Senhora”, “Cura, Senhor”, “Noites traiçoeiras” são algumas músicas que ficaram eternizadas nas vozes de alguns dos padres que dedicam parte do seu ministério sacerdotal à evangelização por meio da música. Participando do Encontro dos Padres Cantores, promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), alguns destes presbíteros partilham sobre esta possibilidade de chegar aos corações das pessoas.
“A música é algo extremamente importante, porque mexe com os sentimentos da pessoa e quando tem uma letra importante e uma música audível, realmente ela toca o coração”, afirma o padre Ricardo White, da arquidiocese de Niterói (RJ). Com mais de 30 anos de missão, o padre já gravou oito CDs e atualmente se dedica, principalmente, ao trabalho pastoral e a shows beneficentes. Para White, a música “‘seduz’, no bom sentido da palavra” e quando “a Palavra de Deus é bem colocada na música, toca o coração”.
O padre Antônio Moreira Borges, popularizado como padre Antônio Maria, é outro que já está há bastante tempo conciliando o ministério sacerdotal com um serviço por meio da música e dos meios de comunicação. Ele revela que quando canta “Cura, Senhor”, “Nossa Senhora”, “Noites Traiçoeiras” e “Pegadas na areia” sente pelo aplauso a proximidade do povo: “quando começa a música o público já delira, então é sinal que fala mais ao coração deles”.
É neste contexto que o padre que mora em Jacareí (SP), no Mosteiro das Irmãs Filhas de Maria Servas dos Pequeninos, considera a existência dos padres cantores “uma sacada maravilhosa de Deus”. Em sua análise, todo mundo tem o coração aberto para a música e ritmo dentro de si, como uma criança que desde os primeiros dias reconhece e reage à música. “A música está dentro de nós. E é muito interessante que a música, o canto entra mais no coração que na cabeça. As homilias entram mais na cabeça e às vezes custam a descer para o coração. A música já vai direto, eu penso assim”.
“Uma frase toca o seu coração, você começa a chorar de emoção, uma deixa você mais alegre, outra deixa você mais pensativo, por isso que eu digo que é uma sacada de Deus inventar essa coisa dos padres que evangelizam pelo canto”, comenta padre Antônio Maria.
Padre Ricardo é Intérprete de “A esperança eternizará”, música adaptada por ele da música norte-americana “Unchained Melody”. “Eu quis dar uma conotação da vida eterna e as pessoas se sentiram muito tocadas por ela”, conta. O padre tem experiências “incríveis” de pessoas que partilharam receber as mensagens das músicas como se fossem para elas próprias. “Tendo uma transformação é o que é mais importante, porque a transformação tem uma característica também da própria conversão em si”, considera.
Padre Ricardo White também ressalta que o dom da música é gratuito recebido de Deus e que os padres cantores devem ser “bons administradores” desse dom, sem ter vaidade e entender que é “um caminho que conduz à evangelização”. Outras músicas marcantes em sua trajetória são Santíssima e Presença Real, popularmente conhecida como Noites Traiçoeiras.
Administradores do dom da música que fala aos corações, os padres cantores tem uma relação de vida e vocação com a música. Padre Antônio Maria sente-se privilegiado por ter se tornado um “cantor de Deus”: “Quando criança eu queria ser cantor. E me tornei um cantor sim, mas de Deus, o que para mim é uma honra muito grande. E é interessante que Santo Agostinho dizia que cantar é próprio dos que amam. Eu acho que quanto mais a gente ama as pessoas, a Igreja e a Deus, mais a gente tem que cantar mesmo. E fazer com que outros cantem. Nossa missão também é Evangelizar para que outros cantando evangelizem também e que a vida se torne uma canção de amor, de fé, de esperança”.
“Deus me deu o dom de cantar, de compor algumas coisinhas simples e estamos aí ‘caminhando e cantando e seguindo a canção…’”.
Fonte: CNBB