Precisamos criar uma nova mentalidade que abrace nossa Casa comum como um bem a ser protegido, não como um objeto a ser explorado. Das Ilhas Maurício o testemunho do padre Maurizio Rossi, salesiano há 27 anos no Oceano Índico: “Este é nosso planeta, devemos cuidar dele e também a classe política deve estar envolvida”.
Gabriella Ceraso – Vatican News
Há uma luta incessante no coração do Oceano Índico para conter a difusão do petróleo derramado do navio japonês MV Wakashio, encalhado no recife de corais em Pointe d’Esny, um santuário para a vida selvagem rara no paraíso natural das Ilhas Maurício, onde associações ambientais vêm tentando há anos restaurar valiosos habitats de flora e fauna. Mil toneladas de petróleo bruto numa carga de 4000 toneladas, foram dispersas, o restante está sendo bombeado enquanto o navio petroleiro se partiu em dois.
Os consultores da França e do Japão estão trabalhando há dias ao lado de especialistas da ONU: é um desastre nacional, mas na verdade mundial, porque “as Ilhas Maurício são um patrimônio mundial”: palavras do padre Maurizio Rossi, um salesiano que vive no Oceano Índico há 27 anos, primeiro em Madagascar, agora nas Ilhas Maurício, onde dirige a Escola Profissional São Gabriel, que acolhe cerca de 250 jovens de 15 a 18 anos, meninos e meninas de famílias pobres, que ainda não terminaram seus estudos e que correm o risco de viver pelas ruas. Entre esses jovens estão os “Creolos” descendentes das famílias dos escravos mestiços do final do século XIX, que infelizmente são muito discriminados por causa de sua pouca cultura e da cor da pele.
Estes jovens, mesmo se apenas nos fins de semana, se disponibilizaram, com o resto da população, a criar “cobras” de palha e material misto, na esperança de que absorvam o petróleo. Com estes jovens, os Salesianos estão trabalhando acima de tudo para tentar formar uma nova “mentalidade” respeitosa e atenta ao meio ambiente tão importante para sua sobrevivência.
Até hoje, o petróleo contido no navio foi bombeado e a mancha preta parece estar contida – conta-nos o padre Maurizio – e a partir desta semana, de acordo com a mídia local, o navio provavelmente será transferido para o porto para não causar mais danos. O Primeiro Ministro Pravind Jugnauth está procurando uma compensação do proprietário japonês do navio, enquanto muitas perguntas permanecem sobre o que ocorreu. As vozes que correm – relata padre Maurizio – relatam a mão da máfia, isto é, do interesse da criminalidade local e do tráfico de drogas, mas também de pouca atenção aos temas ambientais. Certamente, não se explica o movimento costeiro do petroleiro e a intervenção tão tardia que impediu evitar o derramamento do petróleo. Permanecem os enormes danos ambientais e econômicos aos pescadores e trabalhadores hoteleiros, onde, antes a Covid e agora o derramamento de petróleo reduziu pela metade, se não eliminou completamente, o fluxo de turistas:
R. – O problema aqui é que – me parece – é como se todos estivessem descarregando as responsabilidades. O Ministro do Mar deveria ter vigias da guarda costeira, e não sabemos por que ele não deu o alarme. Alguns dizem que foi o navio que entrou, outros dizem que houve uma falta de contato com o porto, mas o navio entrou e encalhou.
E o povo? Os danos à economia, ao turismo, ao abastecimento … já que o mar é uma fonte de vida … como é a situação?
R.- Em toda a região sul os pescadores estão muito preocupados porque, desde meados de julho, quando o navio chegou e o petróleo começou a se espalhar, já então ninguém podia mais pescar. Muitos peixes já estavam mortos na superfície, portanto é um desastre ambiental que está afetando principalmente os pobres e os pescadores que pescam à mão, por assim dizer. E esta é a coisa que mais toca. Nosso bispo fez um apelo a todos os cristãos e a todos os homens de boa vontade para irem lá e juntos podermos conseguir colocar um perímetro nesta área que tende a se expandir no sul das Ilhas Maurício.