Ipatinga, 29 de novembro de 2024

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Fundamentos teológicos da Música Sacra


“O homem redimido tem motivos suficientes para cantar e louvar: pelo Pai que criou o Universo cheio de esplendor, por cristo como glória de Deus acessível a nós, que nos salva, pelo Espírito Santo que geme em nós com gemidos inefáveis e nos faz render graças a todo o instante. Portanto, nosso louvor é Trinitário.”


Jackson Erpen – Vatican News


No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre “Fundamentos teológicos da Música Sacra”.


A Liturgia é sempre um tema apaixonante, e se enriquece ainda mais de beleza quando falamos de Música Sacra. Padre Gerson Schmidt tem dedicado seus últimos programas deste nosso espaço de resgate dos documentos do Concílio Vaticano II justamente ao tema da Música Sacra, tema abordado no Capítulo VI da Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, que no número 116 diz: “A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na ação litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar. Não se excluem todos os outros gêneros de música sacra, mormente a polifonia, na celebração dos Ofícios divinos, desde que estejam em harmonia com o espírito da ação litúrgica”.


Mas também destaca no n. 119, que “em certas regiões, sobretudo nas Missões, há povos com tradição musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e social. Estime-se como se deve e dê-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole, segundo os art. 39 e 40. Por isso, procure-se cuidadosamente que, na sua formação musical, os missionários fiquem aptos, na medida do possível, a promover a música tradicional desses povos nas escolas e nas ações sagradas.”


Na edição de hoje, padre Gerson Schmidt (incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre), nos fala sobre “Fundamentos Teológicos da Música Sacra”:


“O canto cultual tinha-se desenvolvido na passagem da sinagoga para a Igreja primitiva. Aos salmos acrescentaram-se muito cedo os “cânticos”. Tais cânticos se alude nos seguintes textos bíblicos: 1Cor 14,26 que diz – “Que fazer, pois, irmãos? Quanto estais reunidos, cada um de vós pode cantar um cântico, proferir um ensinamento ou uma revelação, falar em línguas ou interpretá-las, mas que tudo se faça para a edificação”; Outro texto encontramos em Col 3,16 – A Palavra de Cristo habite em vós ricamente: com toda a sabedoria ensinai e admoestai-vos uns aos outros e, em ação de graças a Deus, entoem vossos corações salmos, hinos e cânticos espirituais”. E em Ef 5,19 que diz assim: “falai uns aos outros com salmos e hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração, sempre e por tudo dando graças a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Uma série de hinos cristológicos do cristianismo primitivo está conservada nos textos neotestamentários: Fil 2,6-11; Ef 2,14-16; 2Tm 2,11-13.


“O fato de que estes cantos de Israel continuaram a ser recitados e cantados também como cânticos da Igreja, significa que toda a riqueza de sentimento da oração de Israel fora conservado”[1]. Segundo São Tomás de Aquino, o louvor não é necessário para Deus, mas para a própria pessoa que louva[2]. São Tomás ainda diz: “Mediante o louvor de Deus, o homem se eleva até Deus”.


Louvar é elevar-se, “tocar aquele que habita no louvor dos anjos”[3]. Tal elevação arranca o homem do que está contra Deus. “Sabe-o bem quem experimentou a forma transformadora de uma grande liturgia, de uma grande arte, de uma grande música. O louvor que ressoa melodicamente induz todos nós a uma profunda reverência, observa além disso São Tomás”[4].


O salmo 34 proclama que o louvor do Senhor sempre está a minha boca (Sl 34/33,2-4). “A alegria do Senhor aparece aqui como algo em si mesmo, belo e pleno de sentido; alegrar-se no louvor comunitário a Deus e reconhecer, na festiva execução da música, que Ele é digno de tal louvor se justifica por si mesmo, além de qualquer teoria. (…) a expressão da alegria, porém, aparece como uma presença da glória, que é Deus: correspondendo a tal glória, ela mesma participa da glória”[5].


O homem redimido tem motivos suficientes para cantar e louvar: pelo Pai que criou o Universo cheio de esplendor, por cristo como glória de Deus acessível a nós, que nos salva, pelo Espírito Santo que geme em nós com gemidos inefáveis e nos faz render graças a todo o instante. Portanto, nosso louvor é Trinitário.


O louvor melodioso eleva a Deus e transforma corações. Santo Agostinho, no processo de conversão, experimenta isso em Milão, onde a experiência da Igreja que canta se torna para ele – racionalista e acadêmico – uma emoção que invadia a pessoa inteira. No livro das confissões ele assim revela: “Quanto chorei entre os teus hinos e cânticos, profundamente comovido pelas vozes da tua Igreja que suavemente cantava! Aquelas vozes fluíam nas minhas orelhas e destilavam no meu coração a verdade, e se acendia em mim o sentimento de piedade; escorriam as lágrimas e me sentia bem”[6]. E diz mais Agostinho: “Ainda não corria atrás de vós, quando deste modo se exalava o aroma das Vossas fragrâncias. Por isso mais chorava ouvindo os Vossos hinos. Suspirava outrora por vós, e enfim, respirava quando o permite o ar de uma choça de colmo”[7].”


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[1] RATZINGER, Joseph., “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental da existência Humana” – Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, p.481.


[2] Summa Theologiae II-IIae q 91 a 1 resp.


[3] RATZINGER, Joseph., “Teologia da Liturgia – o fundamento sacramental da existência Humana” – Obras completas, Volume XI, edições da CNBB, Editor em Lingua alemã: Cardeal Gerhard Muller e Editor em Lingua Portuguesa Antonio Luiz Catelan Ferreira, Brasilia-DF, 2019, p.482.


[4] Ibidem.


[5] Idem, 481.


[6] Conf. IX 6,14.


[7] Conf. IX 7.



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