Ipatinga, 27 de novembro de 2024

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Bacia do Rio Doce nossa casa comum


Desde aquela tarde fatídica e tenebrosa do dia 5 de novembro de 2015, a Bacia hidrográfica do Rio Doce, a quinta maior do Brasil, do tamanho de Portugal, com 850 km de extensão e quase 3,5 milhões de pessoas, não é mais a mesma. Tudo começou com o rompimento da barragem de rejeitos de minérios de Fundão, em Mariana.


Quatro anos se passaram desde aquele crime/acidente, o maior do país e, muito pouco tem sido feito em termos de ressarcimento para os atingidos direta ou indiretamente pela lama, bem como pela fauna e flora da Bacia, mesmo considerando que já fora investida uma valiosa soma de recursos financeiros, porém mal aplicada, mal direcionada e com pouca incidência real na vida das pessoas da região e do meio ambiente.


Nesse 5 de novembro, torna-se um imperativo ético recordar esta data como dia de protesto e, ao mesmo tempo, de retomada de lutas na Bacia do Rio Doce. Uma das formas mais eficazes nesta batalha é tomarmos consciência sobre esta região.


Na Bacia do Rio Doce existem 377 mil nascentes que necessitam, urgentemente, ser recuperadas, pois sofrem permanente agressão pela criação de pecuária extensiva, pela exploração das mineradoras e pela política de reflorestamento com o plantio de eucalipto.


As 735 barragens de rejeitos de minério em Minas Gerais são verdadeiras bombas-relógio que colocam a população em verdadeira situação de ameaça, insegurança e toda forma de vulnerabilidade.


Associado ao crime/desastre de Brumadinho, o de Mariana continua impune. A esses crimes se aplicam as palavras da bíblia quando lemos a seguinte passagem: “Ouve-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos e não quer ser consolada, pois não existem mais” (Mt 2,18). São 19 mortos em Marina e 228 em Brumadinho. Que consolo poderá existir para seus entes queridos?


Voltando a Mariana, são 55 milhões de metros cúbicos de lama, o equivalente a 20 mil piscinas olímpicas cheias de lama que foram despejadas nos rios afluentes e na calha do Rio Doce.


Ainda existem 300 mil habitantes da Bacia sem água segura para o consumo humano. Como fica a situação das 11 toneladas de peixes mortos, 120 nascentes e mangues soterrados?


As mineradoras existem para dar lucros. Mais lucros e menos segurança! Proteção ambiental, investimento em pesquisas e qualidade de vida da população e a proteção ao meio ambiente são questões secundárias.


Ainda continua frágil a fiscalização nas empresas mineradoras e agora assistimos à flexibilização e ao afrouxamento na legislação e a permissão de continuidade de exploração da mineradora Samarco.


Doutro lado, apontam sinais de vida e resistência na Bacia do Rio Doce, como a criação do Fórum em defesa da Bacia do Rio Doce, as comissões dos atingidos e assessoria técnica com participação de entidades idôneas e respeitadas.


Outra boa notícia é a criação da Rede Igreja e Mineração, em cujo seminário realizado em João Monlevade nos dias 15 a 18 de outubro de 2019 faz-se a seguinte afirmação:


Muito nos alegraram os sinais vindos das comunidades, as quais resistem, enfrentando as mineradoras. A vida pulsa nos territórios de resistência, de defesa da vida, do bem comum e do bem-viver, que apontam um novo e necessário caminho. Reforçamos nosso compromisso com a defesa da vida e com o enfrentamento dos problemas vivenciados pelas comunidades atingidas e ameaçadas. Colocamo-nos como missionários de uma “Igreja em Saída”, assumindo-nos como guardiões e guardiãs da Casa Comum, em comunhão com a Encíclica Laudato Si’ e com o Sínodo da Amazônia”.


Temos muito caminho a percorrer. Não desistamos, jamais!


 Pe. Nelito Dornelas – Cáritas Diocesana de Governador Valadares e Fórum em Defesa da Bacia do Rio Doce

Fonte:Diocesana de Governador Valadares




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