“Não há uma tribuna para denunciar os crimes contra a gente e contra o meio ambiente. Onde estão os organismos internacionais? Como podemos ser ouvidos? Aonde podemos ir? A quem recorrer?” Essas foram as perguntas lançadas hoje (16/10) por Yesica Patiachi Yayori, da tribo Harakbut no Peru, durante o Sínodo para Amazônia realizado no Vaticano. Yesica, em nome do povo Harakbut, pediu aos participantes do Sínodo que seja criada uma interface, alguma maneira de os indígenas solicitarem ajuda às autoridades contra os desrespeitos aos direitos humanos e ao meio ambiente.
“O Papa Francisco é a primeira autoridade internacional a nos ouvir. Meu povo já fez muitos protestos e tentou inúmeras vezes ser ouvido, desde a época dos meus avós, e só agora tivemos uma oportunidade. O que esperamos do Sínodo é podermos, daqui para frente, ter acesso às autoridades que têm condições de nos ajudar. Não queremos que o Sínodo termine como os discursos dos políticos, que não dão resultados, não só palavras bonitas ou um documento bem escrito que não tem efeito. Acredito que sairão resultados daqui. O Papa é nosso irmão, porque se preocupou conosco”, afirmou a indígena.
Yesica explicou que a tentativa de diálogo com as autoridades teve início desde que seu povo sofreu um massacre entre os anos 1920 e 1930. Naquela época, segundo a indígena, seringueiros se aproximaram das tribos para enganá-los, para transformá-los em mão de obra escrava. Ao se revoltarem contra a situação, o povo Harakbut sofreu um ataque. Dos 50 mil que viviam no Peru, 10 mil foram assassinados com armas de fogo de uma só vez. Os corpos foram todos jogados num rio, que ficou contaminado com tamanha quantidade de sangue e restos mortais.
“Só tivemos ajuda, até hoje, da Igreja. Depois do massacre, um missionário dominicano, chamado José Alves, veio ao nosso socorro. Se não fosse por ele, eu não estaria aqui para contar a história. Mesmo com essa ajuda, de 50 mil indígenas no início do século passado, hoje somos apenas mil. O pior é que tudo isso não foi registrado, não está nos livros de história do Peru, foi passado de geração para geração. Por isso pedimos socorro. Para nós e para todos os indígenas de todos os países da Amazônia. Precisamos de uma tribuna para denunciar tudo o que acontece com a gente”, afirmou Yesica.
A indígena disse que, além da violência, o povo Harakbut sofre uma infinidade de outros desrespeitos que precisam ser denunciados: “nós sofremos preconceito por falar nossa própria língua, nossa cultura não é respeitada, sinto medo porque estamos esquecendo certas palavras do Harakbut de tanto sermos obrigados a falar espanhol. Além disso, nossa floresta continua sendo destruída, os novos modelos de desenvolvimento nos excluem, querem reduzir nossas terras, querem nos ver divididos até desaparecer. Contamos com vocês para a preservação da floresta e a manutenção da dignidade dos nossos povos”, finalizou Yesica.
Fonte: CNBB