O cristianismo foi introduzido no Japão no século XVI por São Francisco Xavier, que chegou ao arquipélago em 15 de agosto de 1549 proveniente de Malaca, acompanhado por outros jesuítas. Seguiram-se os franciscanos, os dominicanos e os agostinianos. No arco de 60 anos, esses primeiros missionários, incluindo outro jesuíta, o italiano Alessandro Valignano (1539-1606), conseguiram estabelecer uma comunidade cristã próspera enraizada na fé e, ao mesmo tempo na cultura local.
Graças ao esforço para encontrar expressões apropriadas em japonês para tornar o cristianismo compreensível, a comunidade católica cresceu, chegando a superar os 300.000 fiéis para os quais, em 1588, foi instituída a Diocese de Funay. Seu centro era a cidade de Nagasaki.
Essa primeira comunidade cristã foi quase completamente destruída pelas perseguições iniciadas no final do século XVI com a crucificação, em 1597, de 26 mártires cristãos (6 franciscanos, 3 jesuítas e 17 fiéis) e que atingiram seu ápice no século XVII, um dos mais violentos na história do cristianismo.
Privados do clero e de igrejas onde celebrar liturgias, e apesar dos massacres, alguns cristãos japoneses conseguiram sobreviver e transmitir secretamente sua fé de geração em geração, criando uma simbologia, ritos e uma linguagem incompreensível fora de suas comunidades. Começou assim a era do kakure kirishitan, os “cristãos escondidos”, cuja existência foi descoberta em Urakami, cercanias de Nagasaki, em meados do século XIX quando, com discrição e entre várias dificuldades, foram lentamente retomados os trabalhos de evangelização confiados desta vez à Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris (MEP).
Seguiu, em 1862, a canonização dos 26 mártires cristãos de 1597, aos quais foi dedicada uma igreja construída em 1863 em Nagasaki pelos missionários franceses das MEP. Após a abertura forçada ao Ocidente imposta pelos Estados Unidos e a restauração do Império Meiji em 1871, foi introduzida a liberdade religiosa que permitiu aos cristãos praticar sua fé. O catolicismo pode assim retomar sua difusão livremente, particularmente nas cidades de Osaka, Sendai, a então capital Kyoto, mas também em direção ao norte.
No país chegaram diversas Ordens religiosas, entre os quais os jesuítas, franciscanos, dominicanos, salesianos. Ao mesmo tempo, começava a ganhar forma a organização eclesiástica da Igreja japonesa com a ereção das Dioceses de Nagasaki e Osaka e da Arquidiocese de Tóquio (1891).
Em 1927, a Igreja no Japão teve seu primeiro bispo de nacionalidade japonesa, Dom Januarius Kyunosuke Hayasaka, nomeado à frente da Diocese de Nagasaki.
Para favorecer boas relações com o Império do Sol Nascente, em 1919 a Santa Sé erigiu uma Delegação Apostólica com jurisdição também sobre a Coreia e Taiwan. Em 1942, a própria Sé Apostólica aceitou o pedido do Imperador Hirohito para estabelecer relações diplomáticas com o Japão, um processo interrompido pela guerra e que se concretizou em 1952 com a elevação, por parte do Papa Pio XI, da Delegação Apostólica ao grau de Internunciatura, seguida pela instituição da Nunciatura Apostólica em 1966, sob o Pontificado de Paulo VI.
Não obstante o reconhecimento da liberdade religiosa, a presença da Igreja Católica no Japão permaneceu discreta por um longo tempo e mesmo depois da derrota do Império do Sol Nascente para os Aliados na Guerra do Pacífico (1945), o cristianismo continuou a ser percebido como uma religião estranha à cultura japonesa. Somente no final dos anos cinquenta, e especialmente após o Concílio Vaticano II (1962-1965), uma série de iniciativas colocou no centro da evangelização no Japão a urgência da inculturação.
Partindo da tradução dos documentos do Concílio, ela continuou com a reforma da liturgia e com a tradução dos textos litúrgicos para o japonês; a reorganização das estruturas administrativas da Igreja; a formação do clero, dos religiosos e dos leigos; a promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso; o compromisso social e a promoção da justiça e da paz.
A histórica visita de João Paulo II ao Japão em 1981 (23 a 26 de fevereiro), por ocasião de sua nona Viagem Apostólica, deu um ulterior impulso ao processo de renovação da Igreja japonesa.
A Igreja Católica no Japão hoje conta com 536 mil batizados, o equivalente a cerca de 0,42% da população, de maioria xintoísta e budista. A estes somam-se os cerca de 600 mil fiéis imigrantes residentes para trabalhar. As comunidades católicas estão concentradas em uma área homogênea compreendida entre a Ilha de Hirado, o arquipélago de Goto e a cidade de Nagasaki. A Arquidiocese de Tóquio ainda detém o primado no número de fiéis, seguida por Nagasaki, Yokoama e Osaka.
Como em outras realidades asiáticas, a influência da comunidade católica vai além de seus números muito pequenos. São sobretudo as instituições educacionais da Igreja – incluindo a prestigiosa Universidade Sophia de Tóquio – que fizeram com que o catolicismo, após séculos de perseguição, seja hoje uma realidade respeitada no País do Sol Nascente, especialmente nos ambientes mais urbanizados e instruídos. As escolas católicas são de fato frequentadas principalmente por estudantes não-batizados, aos quais é dada a possibilidade de se familiarizar com a cultura cristã.
Elas são, portanto, um importante veículo de anúncio da mensagem cristã e de diálogo intercultural e inter-religioso. Um diálogo que ao longo dos anos foi se fortalecendo, no espírito conciliar, e conheceu um novo ímpeto com o primeiro Dia Mundial de Oração de Assis, em 1986, no qual também participaram expoentes religiosos japoneses budistas e xintoístas e o encontro inter-religioso dos 1987 no Monte Hiei (Kyoto).
Outro fator importante que contribuiu para a boa imagem da Igreja no Japão é o trabalho de muitas obras de caridade católicas presentes no país. Além de numerosas estruturas de saúde, a Igreja administra casas para idosos, centros para desabrigados e outros serviços sociais, sobretudo nas áreas mais abandonadas nas periferias das grandes metrópoles.
Ademais, houve dois eventos que tornaram essa presença na sociedade japonesa mais visível: o terremoto de Kobe em 1995 e o terremoto e o tsunami catastrófico em Fukushima em 2011, que viram organizações católicas como a Caritas na linha de frente nas ajudas.
Sempre no campo do compromisso social, outro tema no qual a Igreja é particularmente ativa, junto com outras Igrejas e organizações, é o da paz. Nestes últimos anos foram os bispos a indicar com crescente apreensão o risco de que o valor da paz inscrito na Constituição de 1946 seja deixado de lado sob a pressão de eventos internacionais e o nacionalismo emergente.
Na mensagem de 2015 por ocasião do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, eles novamente chamaram a atenção para o retorno de uma mentalidade belicista e reiteraram que o Japão deveria continuar a ter uma vocação especial para a paz, recordando que o conflito mundial foi “uma experiência horrível também para o povo japonês”.
Além disso, todos os anos, de 6 a 15 de agosto, no aniversário do bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, os bispos promovem a iniciativa de oração “10 dias pela paz”, na qual em 2013 também tomou parte o cardeal Peter Turkson.
A esse compromisso com a paz, deve-se acrescentar a crescente sensibilidade da Igreja local para as questões ambientais, em particular após o desastre de Fukushima que colocou novamente em discussão, na sociedade japonesa, o tema da energia nuclear e todo o modelo de desenvolvimento seguido pelo país nessas décadas.
A Viagem Apostólica de João Paulo II ao Japão em 1981, além de contribuir para um maior conhecimento do catolicismo na Terra do Sol Nascente, ajudou a fortalecer a identidade da Igreja Japonesa e a conscientização de sua missão evangelizadora. Uma missão hoje não mais dificultada pela perseguição, mas que permanece ainda difícil em um contexto cultural distante do mundo cristão.
Essa consciência levou o Episcopado a redefinir suas estratégias pastorais nos anos 80, à luz das indicações do Concílio. Duas ideias as ideias de fundo: que o Evangelho da Salvação deve ser levado a todos e que a mensagem cristã da misericórdia, do perdão e da caridade deve chegar a toda a sociedade japonesa, com uma especial atenção aos últimos
Os Bispos indicaram, portanto, três prioridades: transformar as paróquias e dioceses em comunidades evangelizadoras; criar estruturas de cooperação dentro das dioceses entre as Ordens religiosas, os missionários e as comunidades nelas presentes e convocar todas as realidades eclesiais (clero, religiosos e leigos) em uma Convenção nacional para a promoção da evangelização (NICE).
A primeira (NICE I) foi realizada em 1987 em Kyoto. Dela os bispos extraíram as seguintes indicações ilustradas no documento “Vivamos juntos com alegria”: a exigência de uma evangelização encarnada na realidade japonesa; a de aprofundar a fé na vida cotidiana e a de fazer das paróquias as protagonistas da evangelização. A segunda convenção, em 1993 (NICE II), foi dedicada ao tema “Encontrar uma evangelização ideal na realidade da família”, e confirmou o compromisso com a renovação da Igreja local, a fim de torná-la mais próxima da sociedade japonesa e, em particular, dos mais vulneráveis.
Passados mais de vinte anos da NICE II, o desafio da evangelização ad intra e ad extra permanece aberto. Entre os problemas particularmente sentidos está o da transmissão da fé às novas gerações, cada vez mais influenciada por modelos individualistas e por estilos de vida consumistas propostos pela mídia, mas também atraídos pelas novas seitas.
Emerge portanto, a necessidade de uma pastoral da juventude capaz de envolver os jovens na vida da Igreja e de responder às suas aspirações e a sua necessidade de sentido. A experiência da JMJ é considerada nesta perspectiva muito importante. O local privilegiado para a transmissão do Evangelho continua sendo a família, mas as famílias católicas japonesas nem sempre se mostram à altura para tal missão, principalmente quando um dos cônjuges pertence a outra religião, o que é muito comum no Japão.
Este, entre outros, é um dos dados que emergiram do questionário para o Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família realizado no Vaticano em outubro de 2014. A investigação também destacou o escasso conhecimento dos fiéis japoneses da doutrina da Igreja sobre casamento, família, tutela da vida e a pouca consideração que se tem pela própria doutrina, especialmente em relação à contracepção, ao aborto e a prevenção à AIDS.
No geral, observa-se um distanciamento geral da instituição matrimonial, tanto que a coabitação está aumentando mesmo entre casais católicos. O mesmo vale para o divórcio: no Japão, a porcentagem de divórcios entre católicos não difere da dos não-católicos. Além disso, com referência à questão da comunhão para os divorciados e casados novamente, foi verificada uma grande ignorância em relação à doutrina católica sobre o assunto.
No que diz respeito à evangelização ad extra, a Igreja japonesa está dando mais atenção, em comparação com o passado, às áreas rurais, tradicionalmente mais conservadoras e, portanto, menos dispostas a acolher o Evangelho. Para os bispos, um novo recurso importante nessa área é representado pelos imigrantes da fé católica (especialmente filipinos), cujo número também está crescendo devido ao envelhecimento da população japonesa. Por esse motivo, os bispos sentem a necessidade de maior atenção pastoral a essas comunidades para favorecer sua integração nas paróquias.
Outra prioridade para a Igreja local é por fim a promoção do papel dos leigos na Igreja, o que implica a necessidade de melhorar sua formação. Nesse sentido, os bispos veem com favor a difusão de movimentos eclesiais.
O Japão ocupa uma superfície de 377.829 km², onde estão distribuídos 126 milhões 786 mil habitantes. Os católicos são 536 mil, o que corresponde a 0,42% da população.
No país há 16 Circunscrições Eclesiásticas, 859 paróquias, 102 centros pastorais, 29 bispos², 511 sacerdotes diocesanos, 896 sacerdotes religiosos, 20 diáconos permanentes, 173 religiosos não sacerdotes, 4.976 religiosas professas, 174 membros de Institutos seculares, 5 missionários leigos, 1.307 catequistas, 80 seminaristas maiores, 815 centros de educação³, atendendo a 204.335 estudantes, além de 606 centros caritativos e sociais.
¹ Situação em 31 de dezembro de 2017
² Situação em 30 de setembro de 2019
³ De propriedade e/ou administrados por eclesiásticos ou religiosos
Fonte: Vatican News