Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni (MG)
Quando se fala em comunidades eclesiais todos nós entendemos que se refere a um jeito de viver o ser Igreja. Não existe uma única forma de ser Igreja. Todos os modelos e experiências de fé para serem Igreja necessitam estar em comunhão com o Bispo e com toda Igreja Católica Apostólica Romana.
As comunidades referem-se especialmente a um pequeno grupo de pessoas que se reúnem fortalecidas pelos valores do Evangelho e aí vivem a fé se tornando um grupo de resistência contra os males que desqualificam a vida. As comunidades de base tem sido lugares de vivência e de testemunho da fé. As Diretrizes da ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019 a 2023 referem-se a essas experiências como comunidades missionárias. Em todo País é grande o número destas comunidades missionárias quer nas áreas urbanas, ou rurais. Elas nascem e se expandem na força do Espírito Santo.
Devido à crise provocada pelo avanço do Coronavírus que fez desaparecer as aglomerações quer nas matrizes, capelas, ou nas comunidades menores, as pessoas por orientação da própria Igreja não estão mais frequentando as comunidades. Os fiéis não se reúnem mais nos grupos pastorais, não estão presentes nas reuniões dos grupos de oração, nos grupos de reflexão e nos movimentos eclesiais.
Perguntamos: Onde está a Igreja? O sacerdote se reúne com pouquíssimas pessoas numa comunidade e ali celebra a Eucaristia. Os meios de comunicação são utilizados para alcançar as pessoas lá onde elas estão. Elas sabem que naquele momento existe alguém lá na igreja rezando por elas. As preces dos que estão em casa sobem aos Céus com todos que se fazem comunhão. A Eucaristia continua formando comunidades. O Evangelho se espalha.
A Igreja está na base. A família é o lugar onde especialmente se deve começar a formar a comunidade. É bonito o testemunho sólido de pessoas que dizem assim: “Minha mãe, meu pai me transmitiram uma fé bonita e eu guardo esta fé que foi vivenciada primeiramente no berço da família”. Eu pessoalmente posso testemunhar que nunca frequentei um grupo de catequese, pois ele não existia naquela época e naquelas circunstâncias em que eu vivia lá na roça, junto de meus pais. Mas alguém pode perguntar: Como era feita a catequese? Ela talvez não tinha este nome, não era chamada de catequese, mas sei que muitas e muitas vezes meu pai e a minha mãe foram transmitindo o seu conhecimento e o seu testemunho a mim. O jeito deles viverem a fé, rezar e praticar a caridade foi impregnando no meu ser e foi modelando a vocação cristã que assumi no dia do meu batismo.
As pessoas agora, mais do que nunca, estão dentro de casa. As crianças, os adolescentes, os jovens, pais e avós não podem ir à igreja porque é preciso se protegerem e dar proteção aos outros. Eles têm consciência que precisam evitar serem contaminados para não adoecer e nem serem portadores do vírus. As pessoas estão dentro de casa e ali as famílias estão reunidas. É tempo de perceber que aí, neste ambiente familiar, deve se formar na fé cristã. Ali nas casas está a base da Igreja. Quanta coisa boa se pode viver neste tempo de recolhimento familiar.
Trata-se sobretudo de um tempo propício para rever o jeito de ser família e como testemunhar. Agora se pode encontrar tempo para Deus e para todos. O mundo estava nos enlouquecendo, pois embora conectados com tantas realidades estava faltando o calor e alegria do encontro. A dor e alegria dor irmão e própria presença era desconsiderada. A dor se tornava procurada, não por solidariedade, mas para ser divulgada com rapidez pelas redes sociais. Existia uma vontade de ser o primeiro a divulgar o que se via.
Agora chegou o tempo do estar juntos, conviver e sentir o cheiro do irmão e da irmã. É tempo de reconstruir um novo relacionamento entre si e com Deus. A Igreja está aí, nas casas, para recriar um mundo novo a partir da família que é a célula da sociedade. Estamos como que na “Arca de Noé” esperando a recriação do jeito de viver e a nossa fé nos indica que aurora vai chegar.
Fonte: CNBB