Ipatinga, 26 de novembro de 2024

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Para Dom Wilmar Santin caminhada com povos da Amazônia sugere inculturação


O Papa Francisco inicia o quarto capítulo da exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia afirmando que “A Igreja é chamada a caminhar com os povos da Amazónia”. E para fazer essa caminha, se faz necessária a inculturação, como destaca o bispo da prelazia de Itaituba (PA), dom Wilmar Santin. Caso não lance mão deste modo de anunciar o Evangelho, a presença eclesial “vai ser um chapéu doutrinal que se coloca na cabeça e o primeiro vento já leva embora”, considera o bispo.


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Dom Wilmar reforça que não existe uma cultura amazônica, mas uma multiforme maneira cultural que apresenta outras várias maneiras culturais de encarar a vida. E é neste cenário que a Igreja deve anunciar o Evangelho, com a proposta de fé “irrenunciável”.



Temos que evangelizar e disso não podemos abrir mão. Nós não podemos apresentar simplesmente um código de doutrinas ou de imperativos morais, devemos sempre anunciar a salvação que nos é oferecida por Jesus Cristo”, afirma dom Wilmar.



O bispo ainda relembra que os povos que estão na Amazônia não são meros receptores do Evangelho, “mas que eles tem o direito ao anúncio do evangelho, eles têm o direito de ouvir que Deus os ama infinitamente como ama cada ser humano e que esse amor se manifesta plenamente em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado”.


Neste anúncio inculturado, om Wilmar idealiza que todos os missionários aprendessem a língua das comunidades em que atuam: “Urge esse ponto de que os missionários entrem inteiramente na cultura, aprendendo também a própria língua deles. Foi os que os primeiros cristãos fizeram”.



No processo de inculturação, há um duplo caminho que dom Wilmar pontua a partir da exortação do Papa: de um lado, o Evangelho que é anunciado e que deve ser expresso na cultura local, usando elementos da cultura local; do outro, a própria Igreja que deve incorporar elementos que o Espírito enriquece a partir daquela cultura e que enriquece a própria Igreja.



Aquilo que é semeado não é para os outros, mas é também para o bem da Igreja. Esse é o grande desafio, que cada missionário tenha consciência: eu estou levando a mensagem do Evangelho, a mensagem da pessoa de Jesus Cristo e devo fazê-lo de maneira inculturada na realidade onde se estiver, mas também ele deve estar com o coração aberto para enriquecer a Igreja, porque o Espírito também fala quando a Igreja está presente no local, não só para os povos que escutam a mensagem, mas também para a própria Igreja”, comentou.



Intercâmbio


Este intercâmbio de enriquecimento, ainda sugere a necessidade escutar a sabedoria ancestral, afirma dom Wilmar: “voltar a dar voz aos idosos, reconhecer os valores presentes no estilo de vida das comunidades nativas, recuperar a tempo as preciosas narrações dos povos”.


Na busca pela santidade, dom Wilmar ensina que a inculturação não importa modelos de santidade de outros locais, como a Europa, ou esquemas pastorais. Ela leva em consideração elementos da espiritualidade própria de cada povo com as devidas purificações encontrando novos caminhos de vivência da santidade nos níveis pessoal e comunitário: “Deve se chegar a ter um caminho próprio de vivencia da santidade, não julgar tudo como superstição ou paganismo. A piedade popular pode se captar à modalidade que a fé recebida se encarnou numa cultura”.


Dom Wilmar recorda as festas dos padroeiros, que na Amazônia tem vivência e participação popular muitas vezes maior que o Natal, a Páscoa e Pentecostes. “Muita gente que só participa de uma celebração no dia da festa do padroeiro. É evidente que tudo isso tem uma força muito grande e que nós temos que aproveitar dessa piedade popular e procurar colocar, levar às pessoas a aceitarem Jesus no centro da sua vida”.


Na liturgia, dom Wilmar também sublinha a necessidade de valorizar as culturas locais adaptando o que for possível com cantos, danças, ritos, gestos e símbolos.


Ministérios


Sobre o trecho dedicado pelo Papa Francisco à inculturação dos ministérios, dom Wilmar Santim lembrou da expectativa da autorização de ordenação dos viri probati, homens casados de caminhada e maduros na fé que seriam admitidos no ministério presbiteral.



É uma discussão bastante acalorada que ainda não se tem muita clareza. A proposição do Papa me agradou muito porque ele não se limitou a analisar o tema simplesmente pode ou não pode, dou licença ou não dou licença. Mas ele fez uma reflexão que bate com o que eu pensava: não é simplesmente a ordenação de homens casados que vai resolver os problemas da Igreja porque teremos mais sacerdotes”, comentou.



O bispo sublinha que na atualidade, há dificuldade mesmo para encontrar ministros da Eucaristia, da Palavra, catequistas, o que também seria refletido no caso dos homens que se candidatariam para o sacerdócio. Mesmo assim, reforça a necessidade de pensar um modo de garantir a Eucaristia para as comunidades amazônicas.


Realçando o incentivo do Papa aos diáconos permanentes, dom Wilmar ala que é necessário aos religiosos e, principalmente, aos leigos assumirem responsabilidades no crescimento da comunidade e a maturação no exercício de tais funções “graças a um adequado acompanhamento”.


Sobre os ministérios que podem ser instituídos, propõe:



Um dos ministérios que devem ser instituídos é o de fundadores e animadores de comunidades. Numa cidade, quando tem um novo loteamento, começa um novo povoado, vão ministros leigos formar a comunidade, adquirir terreno, juntar o povo e depois de formada a comunidade, sair para outro lugar. Nesse ponto também as mulheres poderiam entrar e ter um papel decisivo. Mas, sobretudo, deveríamos formar bons ministros da palavra: pregadores, missionários que vão de casa em casa, que vão nas praças, que vão nas escolas, nos asilos levar a Palavra de Deus. Ter mais padres é muito bom, mas seria criar um comodismo como está e centrar as ações na figura do padre.


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As mulheres


Dom Wilmar reafirma as ideias do Papa de não querer reduzir a participação da mulher na Igreja, bem como sua compreensão, nas estruturas funcionais, evitando também levar à “clericalização”. Quanto à participação e poder de decisão, o bispo cita o exemplo de sua prelazia, onde as mulheres têm maior número nos conselhos paroquiais e nas assembleias e sempre tem maioria nas votações.


“Elas são consultadas, participam e fazem com grande maestria. Na maior parte das comunidades, são ministras da Eucaristia e da Palavra. Dentro da cultura indígena o número é menor. Sem as mulheres, a Igreja desmorona”, disse o bispo.


Fonte:CNBB



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