Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano
A vida cristã é permanecer em Deus, seguindo o Espírito Santo e não o espírito do mundo, que leva à corrupção, a não distinguir o bem do mal. O Papa Francisco retomou esta terça-feira (07/01) as missas na Casa Santa Marta e, na homilia, comentou o trecho da primeira carta de São João apóstolo, primeira leitura da liturgia do dia, no qual o evangelista repropõe o conselho de Jesus aos seus discípulos: “Permaneçam em Deus”.
O Papa destacou que alguém pode “estar nas cidades mais pecaminosas, nas sociedades mais ateias, mas, se o coração permanece em Deus”, este homem e esta mulher levam a salvação. E recordou o episódio narrado nos Atos dos Apóstolos, que chegam a uma cidade e encontram cristãos batizados por João. Perguntam a eles: “Receberam o Espírito Santo?”, mas estes nem mesmo sabiam que existisse. Francisco então comentou que também hoje muitos cristãos identificam o Espírito Santo somente com a pomba e não sabem que “é quem nos faz permanecer no Senhor, é a garantia, a força para permanecer no Senhor”.
Depois, o Pontífice falou do espírito do mundo, que é contrário ao Espírito Santo. “Jesus, na Última Ceia – recordou – não pede ao Pai para tirar os discípulos do mundo”, porque a vida cristã está no mundo, “mas para protegê-los do espírito do mundo, que é o contrário”. E é “pior do que cometer um pecado. É uma atmosfera que o torna inconsciente, o leva a um ponto que você não sabe reconhecer o bem do mal”.
Ao invés, para permanecer em Deus, “devemos pedir este dom” do Espírito Santo, que é a garantia. Disto “conhecemos que permanecemos no Senhor”. Mas como podemos saber se temos o Espírito Santo ou o espírito do mundo?, questinou Francisco. São Paulo nos dá um conselho: “Não entristeçam o Espírito Santo. Quando caminhamos rumo ao espírito do mundo, entristecemos o Espírito Santo e o ignoramos, o deixamos de lado e a nossa vida vai por outro caminho”.
O espírito do mundo, acrescentou o Papa, é esquecer, porque “o pecado não o afasta de Deus se você percebe e pede perdão, mas o espírito do mundo o faz esquecer o que é o pecado”, pode-se fazer tudo. E contou que nesses dias um sacerdote lhe mostrou um vídeo de cristãos que festejavam o ano novo numa cidade turística, num país cristão:
Festejavam o primeiro dia do ano com uma mundanidade terrível, desperdiçando dinheiro e tantas coisas. O espírito do mundo. “Isso é pecado?” – “Não, caro: isso é corrupção, pior que o pecado”. O Espírito Santo o leva a Deus e, se você pecar, o Espírito Santo o protege e o ajuda a se levantar, mas o espírito do mundo o leva à corrupção, a um ponto tal que você não sabe distinguir o que é bom e o que é mau: é tudo a mesma coisa, é tudo igual.
Francisco recorda de uma canção argentina que diz: “Vai, vai, vai… tudo é igual que ali no forno vamos nos encontrar”. O espírito do mundo, comenta ele, leva você à inconsciência “de não distinguir o pecado”. E como posso saber se pergunta ainda o Pontífice, se “estou no caminho da mundanidade, do espírito do mundo, ou estou seguindo o Espírito de Deus?”
O apóstolo João nos dá um conselho: “Queridos amigos, não deem fé a todo espírito (ou seja, a todo sentimento, toda inspiração, toda ideia), mas coloquem à prova os espíritos, para testar se eles realmente vêm de Deus (ou do mundo)”. Mas o que é isto pôr à prova o Espírito? É simplesmente [isto]: quando você sente algo, você tem vontade de fazer algo, ou você tem uma ideia, um julgamento de algo, [pergunte-se:] isto que eu sinto é do Espírito de Deus ou do espírito do mundo?
E como se faz isso? O conselho do Papa Francisco é que de se perguntar “uma, duas vezes por dia, ou quando você sente algo que lhe vem em mente”: Esta coisa que eu sinto, que quero fazer, de onde vem? “Do espírito do mundo ou do Espírito de Deus? Isto vai me fazer bem ou vai me levar pelo caminho da mundanidade que é a inconsciência?”.
Muitos cristãos, lamenta o Papa, “vivem sem saber o que se passa no seu coração”. É por isso que São Paulo e São João dizem: “Não dê fé a todos os espíritos”, ao que você sente, mas põe-no à prova. E assim “saberemos o que ocorre em nosso coração”. Porque, conclui Francisco: “Muitos cristãos têm o coração como um estrada e não sabem quem vai e quem vem, vão e vem, porque não sabem examinar o que ocorre dentro dele “.
Por isso eu recomendo, todos os dias, tomem algum tempo antes de ir para a cama ou ao meio-dia – quando quiserem – [e se perguntem]: o que passou no meu coração hoje? O que é que eu tive vontade de fazer, de pensar? Qual é o espírito que se moveu no meu coração? O Espírito de Deus, dom de Deus, o Espírito Santo que sempre me leva ao encontro com o Senhor ou o espírito do mundo que me distancia do Senhor gentilmente, lentamente; é um deslizamento lento, lento, lento.
Peçamos esta graça, é o conselho final do Pontífice, “de permanecer no Senhor e rezemos ao Espírito Santo, para que Ele nos faça permanecer no Senhor e nos dê a graça de distinguir os espíritos, isto é, o que se move dentro de nós”. Que o nosso coração não seja um caminho”, mas que seja o ponto de encontro entre nós e Deus.
Fonte: Vatican News