Ipatinga, 24 de novembro de 2024

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Papa aos bispos do Japão: defender toda vida como dom precioso do Senhor




Em seu primeiro discurso em terras nipônicas este sábado (23/11), o Papa Francisco, falando aos bispos, convidou-os a prestar atenção especial aos jovens e às suas necessidades, procurando “criar espaços onde a cultura da eficiência, do rendimento e do sucesso possa abrir-se à cultura dum amor gratuito e altruísta, capaz de oferecer a todos – e não só aos mais prendados – possibilidade duma vida feliz e realizada”



Raimundo de Lima – Cidade do Vaticano


“Não tenhamos medo de realizar sempre, aqui e em todo o mundo, a missão de levantar a voz e defender toda a vida como dom precioso do Senhor. Por isso vos encorajo nos vossos esforços por garantir que a comunidade católica, no Japão, ofereça um testemunho claro do Evangelho no meio de toda a sociedade.”


No vosso meio como peregrino missionário


Foi a exortação do Papa no encontro com os bispos do Japão, em seu primeiro dia e primeiro discurso em terras nipônicas, este sábado (23/11), na nunciatura apostólica, na qual agradeceu ao Senhor ao fazer-se peregrino missionário no País do São Nascente, seguindo os passos de grandes testemunhas da fé. A visita constitui a segunda etapa desta 32ª viagem apostólica internacional, iniciada com a visita pastoral à Tailândia.


Falando a seus irmãos no episcopado, Francisco externou desde jovem sentir simpatia e estima por estas terras. “Passaram-se muitos anos desde aquele impulso missionário, cuja realização se fez esperar”, acrescentou.


Já no início de seu discurso, o Santo Padre quis estender seu abraço e suas orações a todos os japoneses, neste período marcado pela entronização do novo Imperador e o início da era Reiwa.


São Francisco Xavier, grande evangelizador do Japão


“Completam-se quatrocentos e setenta anos da chegada de São Francisco Xavier ao Japão, que marcou o início da propagação do cristianismo nesta terra. Recordando-o, quero unir-me convosco para dar graças ao Senhor por todos aqueles que, ao longo dos séculos, se dedicaram a semear o Evangelho e a servir o povo japonês com grande unção e amor; tal dedicação conferiu uma fisionomia muito particular à Igreja japonesa”, frisou o Pontífice recordando particularmente a figura eminente do jesuíta grande evangelizador do Japão.


O Papa recordou também os mártires São Paulo Miki e seus companheiros e o Beato Justo Takayama Ukon, que, no meio de muitas provações, deram testemunho até à morte.


“O DNA das vossas comunidades está marcado por este testemunho, antídoto contra todo o desespero, que nos indica a estrada para onde encaminhar-se. Sois uma Igreja que se manteve viva pronunciando o Nome do Senhor e contemplando como Ele vos guiava no meio da perseguição.”


Testemunho dos mártires


Francisco destacou que a sementeira confiante, o testemunho dos mártires e a espera paciente dos frutos, que o Senhor concede no devido tempo, “caracterizaram a modalidade apostólica com que soubestes acompanhar a cultura japonesa. Como resultado – disse –, plasmastes  ao longo dos anos um rosto eclesial, geralmente muito apreciado pela sociedade japonesa, graças às vossas variadas contribuições para o bem comum”.


Em seguida, lembrou aos bispos japoneses o lema desta da visita e a missão episcopal.


Proteger toda a vida


“Esta viagem apostólica decorre sob o lema «proteger toda a vida»; lema este, que pode facilmente simbolizar o nosso ministério episcopal. O bispo é uma pessoa que o Senhor chamou do meio do seu povo, para devolvê-lo a este como pastor capaz de proteger toda a vida; isto define, em certa medida, o alvo para onde devemos apontar.”


“Proteger toda a vida significa, em primeiro lugar, ter um olhar contemplativo capaz de amar a vida de todo o povo que vos está confiado, para reconhecerdes nele, antes de mais nada, um dom do Senhor”, disse ainda. Porque só o que se ama pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado, acrescentou.


Proteger toda a vida e anunciar o Evangelho não são duas coisas separadas nem contrapostas, mas uma reclama e exige a outra, observou o Santo Padre. “Ambas significam estar atentos e vigilantes relativamente a tudo aquilo que hoje possa impedir, nestas terras, o desenvolvimento integral das pessoas confiadas à luz do Evangelho de Jesus”.


Testemunho humilde, diário, aberto ao diálogo


“Sabemos que a Igreja, no Japão, é pequena, e os católicos são uma minoria; mas isto não deve desmerecer o vosso compromisso com a evangelização, pois, na vossa situação particular, a palavra mais forte e clara que se pode oferecer é a dum testemunho humilde, diário, aberto ao diálogo com as outras tradições religiosas.”


Francisco ressaltou aos bispos que a hospitalidade e o cuidado prestados aos numerosos trabalhadores estrangeiros, que constituem mais de metade dos católicos do Japão, “servem não só como testemunho do Evangelho no meio da sociedade japonesa, mas atestam também a universalidade da Igreja, demonstrando que a nossa união com Cristo é mais forte do que qualquer outro vínculo ou identidade e é capaz de atingir e envolver todas as realidades”.


Visita a Hiroshima e Nagasaki


Uma Igreja de mártires pode falar com maior liberdade, especialmente quando aborda questões urgentes como a paz e a justiça no nosso mundo, disse o Pontífice, acrescentando:


“Em breve, visitarei Nagasaki e Hiroshima, onde rezarei pelas vítimas do catastrófico bombardeamento destas duas cidades e darei voz aos vossos próprios apelos proféticos em prol do desarmamento nuclear. Desejo encontrar aqueles que sofrem ainda as feridas daquele trágico episódio da história humana, bem como as vítimas do ‘tríplice desastre’.”


Flagelos que ameaçam a vida de algumas pessoas


Estamos cientes da existência de vários flagelos que ameaçam a vida de algumas pessoas das vossas comunidades, por várias razões atingidas pela solidão, o desespero e o isolamento, disse, antes de concluir.


“O aumento do número de suicídios nas vossas cidades, bem como o bullying e várias formas de consumo estão criando novos tipos de alienação e desorientação espiritual. E como tudo isto atinge especialmente os jovens!” – observou, convidando os bispos a prestar atenção especial a eles e às suas necessidades, procurando “criar espaços onde a cultura da eficiência, do rendimento e do sucesso possa abrir-se à cultura dum amor gratuito e altruísta, capaz de oferecer a todos – e não só aos mais prendados – possiblidade duma vida feliz e realizada”.


Evangelho da compaixão e da misericórdia


“Devemos alcançar a alma das cidades, dos lugares de trabalho, das universidades, para acompanhar com o Evangelho da compaixão e da misericórdia os fiéis que nos foram confiados”, concluiu Francisco exortando mais uma vez os bispos do Japão.


Fonte: Vatican News






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