Ipatinga, 24 de novembro de 2024

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Campanha Natal sem Fome: “Quem tem fome, tem pressa!”


“Tenho compaixão da multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem o que comer” (Mc 8,2).


Nas passagens bíblicas sobre a multiplicação dos pães, Jesus é “tomado de compaixão”. Nas duas citações do Evangelho de São Marcos, os discípulos são movidos internamente pela precariedade das condições para alimentar tantas pessoas – por isso, se orientam pelo pensamento mais fácil: “Despede-os para que vão aos campos e povoados vizinhos e comprem para si o que comer” (Mc 6,36). Mas a palavra de Jesus é firme: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 36,37).


Todo cristão conhece o fim dessas passagens: milhares de pessoas foram alimentadas – como mais um sinal da Graça e do amor generoso de Deus para com seus filhos e filhas.


Compaixão deveria ser uma das palavras pontuais na vida dos seguidores de Cristo, porque Ele próprio, também na sua humanidade, se comoveu internamente por seus semelhantes e suas tantas carências.


Carta de Apresentação 4ª Edição da Campanha Natal Sem Fome



Campanha Natal Sem fome: Quem tem fome, tem pressa!


Após quase dois anos (2012 a 2014) vivenciando a experiência missionária no município de Afuá, estado do Pará, o padre Marco José de Almeida retornou a Minas Gerais como vigário (hoje pároco) da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em João Monlevade.


Em 2015, ao participar da celebração da Novena de Natal na Unimed/Monlevade, sentiu-se tocado pela iniciativa dos funcionários em manter acesa a “chama natalina”, sobretudo no setor privado. Despertado para a ação do gesto concreto, atitude a que são chamados todos os cristãos, o padre lançou a semente e sugeriu que, em 2016, fosse realizada uma campanha em prol do Natal das famílias de Afuá.


Assim aconteceu e de maneira surpreendente!


Nos anos em que serviu em Afuá, padre Marco relata que, por meio de rifas e outras iniciativas, a comunidade paroquial conseguia arrecadar em torno de 5 mil reais, de agosto a dezembro. Os recursos eram destinados à compra de alimentos para que as famílias, que viviam abaixo da linha da pobreza, pudessem ter uma refeição digna no Natal. Nesta cidade, a campanha existe desde 1998.


Em 2016, com a primeira Campanha Natal Sem fome: “Quem tem fome, tem pressa!” (Betinho), alavancada em João Monlevade, foram arrecadados cerca de R$ 44.500,00. Dinheiro suficiente para alimentar 341 famílias de Afuá. Em 2017 e 2018, os valores ficaram em torno de 88 mil reais: cerca de 800 famílias celebraram o nascimento de Jesus com uma refeição decente.


O sucesso da campanha, realizada pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição e Amigos de Afuá, é resultado de importantes parcerias com o setor privado, veículos de comunicação, profissionais liberais e, notavelmente, a participação ativa da comunidade de fé com as doações e voluntariados. A Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano e a Unimed – Federação Minas são apoiadoras da iniciativa.


Em 2019, o bispo Dom Marco Aurélio Gubiotti, após participar do encontro do Clero na Prelazia do Marajó, em agosto, se sensibilizou ainda mais com a situação das comunidades da Igreja-Irmã da Diocese de Itabira. Comovido com o relato de um padre sobre a cidade de Chaves, retornou à Minas com o objetivo de estender a campanha a todas as paróquias da nossa diocese, num claro apelo para que mais famílias sejam assistidas no Natal. Em função disso, além de Afuá, o município de Chaves também será beneficiado.


 


A dura realidade do Marajó


Em reportagem de Mary Cohen, publicada no site Amazônia Real, a situação do Marajó nos conduz a tristes imagens de uma realidade ignorada por muitos brasileiros.


“Mais de 50% da população do Marajó vive com renda per capita inferior a meio salário mínimo e onde a pobreza impera, reina a violência, a exploração sexual de crianças e adolescentes, o tráfico de drogas e de pessoas.


Os municípios do Marajó não conseguem esconder sua pobreza. É comum, na área rural, as casas sobre palafitas, sem qualquer saneamento ou energia elétrica, sendo que o banheiro dos moradores é o próprio rio.


Nos municípios do Marajó é comum encontrar crianças e adolescentes circulando entre as embarcações. Os barcos são locais onde acontecem abuso e exploração sexual em troca de óleo ou restos de comida, e também são meios de transporte das vítimas do tráfico de pessoas.


Os direitos humanos permanecem desconhecidos na vastidão do arquipélago. E em pleno século XXI, uma jovem mãe, 21 anos, ensino fundamental incompleto, pobre e negra, foi presa, jogada em uma cela na companhia de vários homens, ofendida moralmente, obrigada a amamentar seu bebê de apenas onze meses na cela fétida – e somente duas vezes ao dia -, sem o mínimo de higiene, durante três dias, na cidade de Chaves (PA).”


A dinâmica/logística da Campanha


O abismo socioeconômico entre as cinco regiões do país é gritante. A Região Sudeste é responsável por cerca de 55% do PIB nacional (Produto Interno Bruto). Já a Região Norte, onde estão localizados os municípios de Afuá e Chaves, contribui com pouco mais de 5% do PIB, embora ocupe a maior área territorial entre as regiões.


O acesso aos estados da Região Norte, sobretudo aos municípios mais afastados das capitais, também é um grito de socorro à falta de planejamento e investimentos governamentais em obras de infraestrutura rodoviária – que ainda é o principal meio de escoamento/deslocamento de bens interestaduais no país -, e hidroviária, principalmente em mesorregiões como a do Marajó.


As duas cidades-alvos da campanha, Afuá e Chaves, estão localizadas nessa mesorregião e apesar de estarem no estado do Pará, o ‘caminho mais curto’ é pelo estado vizinho, Amapá.


A distância rodoviária entre as cidades de João Monlevade/MG e Macapá/AP compreende 3.357 km. Afuá está a 84 km de Macapá e Chaves a 122 km – ambas por acesso hidroviário.


Para transportar alimentos de João Monlevade até Macapá seriam necessários mais ou menos 10 dias, não havendo nenhum contratempo nas rodovias. O frete estimado é de quase R$ 19 mil. De Macapá até Afuá e Chaves, somam-se os fretes nos valores de R$ 900,00 e R$ 1800,00, respectivamente, por via hidroviária. O custo aproximado para transportar os alimentos da Campanha Natal Sem Fome ultrapassaria a casa dos 20 mil reais – recurso bem significativo.


A maneira encontrada para viabilizar e diminuir esses custos foi através de uma parceria com um armazém de Macapá – o Fort Distribuidora. Desde a primeira campanha, ele é responsável pelo fornecimento dos alimentos, organização e a entrega das cestas na cidade de Afuá e, este ano, também em Chaves. Nos dois municípios há equipes responsáveis pelo recebimento das cestas e encaminhamento às famílias. O armazém concederá gratuitamente o transporte fluvial das cestas até as duas cidades.


A economia de mais de 20 mil reais com o transporte, equivale a aquisição de aproximadamente 200 cestas. Além disso, sendo dispensado o transporte rodoviário de Minas ao Amapá, a campanha conta com mais 10 dias para as arrecadações – até 20/12. As 831 famílias a serem beneficiadas – meta deste ano -, receberão as cestas até o dia 24 de dezembro.


*Na próxima reportagem da série, “Quem tem fome, tem pressa”, você vai conhecer um pouco da realidade do município de Afuá.



Faça parte desta campanha! A sua ajuda é graça na vida dos nossos irmãos.



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