Ipatinga, 23 de novembro de 2024

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Comunidades eclesiais missionárias apontam para um jeito de ser Igreja na cidade


Inúmeros fatores, entre eles o crescimento imobiliário experimentado nas últimas duas décadas, fizeram nascer em muitas cidades brasileiras novos condomínios e novos bairros. Com o adensamento populacional, além das demandas como creches, escolas, hospitais, comércios, nasce também a necessidade de espaços religiosos para atender as necessidades espirituais dos fiéis. Foi com esse propósito que, em 2010, a arquidiocese de São Salvador da Bahia desenvolveu um projeto de ação missionária e criou a Área Pastoral Ascensão do Senhor, compreendida por toda a borda da Avenida Luiz Viana Filho.


O então arcebispo, à época, dom Geraldo Majella Agnelo nomeou o padre Manoel de Oliveira Filho como delegado episcopal para cuidar da evangelização na região. A aproximação com os condomínios se deu através dos próprios moradores conta o padre. “As portas foram se abrindo e constituímos sete comunidades missionárias, com círculos bíblicos, missas e várias outras iniciativas que foram surgindo”, explica.


A professora Zuleide Pereira Silva é uma fiel que ajudou a fundar uma dessas comunidades da Área Pastoral Ascensão do Senhor. “A minha vivência de fé foi muito gratificante por causa da acolhida de padre Manoel. Em março de 2013, me acolheu ministra extraordinária da comunhão e veio para abençoar o meu apartamento. Aqui se ofereceu para celebrar uma missa todo mês. Aceitei e formamos uma comunidade, cujo padroeiro é São José”, relembra.


Seis anos depois de evangelização e atuação como uma comunidade missionária, em 15 de dezembro de 2016, o atual arcebispo Primaz do Brasil, dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, instalou a Paróquia Ascensão do Senhor, e nomeou padre Manoel Filho como primeiro pároco.


“A instalação da paróquia chegou como resposta ao desenvolvimento pastoral existente na comunidade. Cada uma tem um padroeiro, um conselho comunitário e uma vida missionária que inclui reuniões para refletir a palavra de Deus, reza do terço. Também são desenvolvidas ações caritativas para fora dos muros e todas formam o Conselho das Comunidades”, destaca padre Manoel.


Ao longo desses anos de trabalho comunitário, Zuleide enfatiza que a Comunidade São José mudou a realidade da região. “Aqui é um conjunto muito grande, com espaço para muitos tipos de lazer, menos para a questão religiosa. Com a presença do padre Manoel, tudo mudou, uma vez que formamos uma comunidade, com a celebração de missa, uma vez por mês, participando cerca de 100 moradores”, diz.


Além de atuar na paróquia, toda quarta-feira o grupo do condomínio se reúne para rezar o terço e meditar o Evangelho, com a participação de aproximadamente 40 moradores.


Ações evangelizadoras como essa da arquidiocese de São Salvador da Bahia são desenvolvidas em todo o Brasil. A cerca de 1.600 quilômetros da capital baiana, na arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), mais precisamente no bairro da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, nasceu no condomínio Península, em 2008, a comunidade Santo Antônio que quatro anos depois virou capela.


A iniciativa de criar naquele espaço uma comunidade católica foi atual do bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Joel Portella Amado, que à época era pároco na paróquia matriz Nossa Senhora da Vitória, também na Barra da Tijuca.


“Todo meu projeto foi presença de Igreja em todas as regiões da Barra da Tijuca. Quando eu falo presença de Igreja, não falo apenas da igreja prédio, mas a Igreja comunidade com catequese, grupo de famílias, grupo de oração, círculo bíblico, terço”, destaca.


Segundo dom Joel, a Barra da Tijuca é uma região extensa, em grande expansão. Foi durante o trabalho de visita às comunidades que ele conheceu o condomínio Península, então com uma projeção de 20 mil moradores. Diante dessa realidade, o então monsenhor Joel, passou a celebrar uma missa por mês, no playground de um dos prédios, e visitar as famílias. Em uma dessas visitas percebeu em um terreno de 6 mil metros na entrada do condomínio que havia sido usado pelo stand de vendas da incorporadora.


“Fui atrás e conseguimos o terreno por decreto do então prefeito do Rio de Janeiro para se fazer ali uma igreja. Como no local já havia o stand de vendas e era nos padrões do condomínio, conversei com um paroquiano arquiteto se era possível aproveitar a estrutura, corrigimos iluminação e ventilação. Os quartos viraram salas de catequese, o local de venda virou a nave da Igreja e em 60 dias nasceu a capela Santo Antônio”, disse. No dia 13 de junho de 2015, a capela Santo Antônio foi elevada à paróquia pelo arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani João Tempesta.


Foi a partir dessas experiências de evangelização em comunidades e preocupados com a atuação da Igreja na realidade urbana que a CNBB focou as discussões no plano de atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para o quadriênio 2019-2023. As diretrizes foram estruturadas a partir da concepção da Igreja como “Comunidade Eclesial Missionária”, apresentada com a imagem da “casa” e “construção de Deus” (1Cor 3,9).


“Que essas comunidades eclesiais missionárias tenham jeito de casa, de acolhida, não uma coisa estática de paredes simplesmente, ou da estrutura física. Mas, acima de tudo, as diretrizes falam de um jeito de ser, de uma postura que lembre, evoque a ideia da casa que acolhe, que é espaço de ternura e misericórdia”, disse padre Manoel de Oliveira Filho que também foi membro da Comissão do Texto Central das DGAE 2019-2023.


As diretrizes estão estabelecidas em quatro pilares. A casa é onde as pessoas são identificadas pelo nome, pelo jeito, onde têm história: Palavra de Deus e a iniciação à vida cristã; Pão, que é a casa sustentada pela liturgia e sobre a espiritualidade; Caridade, que é a casa sustentada sobre o acolhimento fraterno e sobre o cuidado com as pessoas, especialmente os mais frágeis e excluídos e invisíveis; e a Missão, porque é impossível fazer uma experiência profunda com Deus na comunidade eclesial que não leve, inevitavelmente, à vida missionária.


Matéria publicada originalmente na Revista Bote Fé edição nº 28


Fonte: CNBB



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